Canábis na Terra
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A CANABIS NA TERRA

by Eunice Veloso on May 29, 2024

O plantio e uso da canábis remonta a tempos remotos: 2727 AC. Exactamente: mais de dois mil anos antes de Cristo.

Esta é a data do registo escrito mais antigo, que pertence ao tempo do Imperador chinês Shen Nung, apelidado de Divino Agricultor.

No médio Oriente o consumo espalhou-se  por todo o império islâmico. A canábis entrou no Ocidente pela mão dos espanhóis, que a importaram para o Chile com o objectivo do seu uso como fibra.

Na América do Norte há muito que é cultivada para o fabrico de cordas, papel e roupas.

Claro que os gregos e romanos estavam familiarizados com a canábis: o uso para fins medicinais também é antigo. Era usada no império romano pelo filósofo Plínio, como analgésico, como anti -inflamatório e trazia a alívio na artrite, gota  e doenças similares. Mais recentemente no corte real britânica para tratar neuralgias, enxaquecas e dismenorreia (cólicas menstruais).

 

Mais recente na história é o seu uso no comércio e tráfico de drogas ilegais, a par do ópio e da cocaína.

Até há bem pouco tempo (2020), a canábis esteve incluída na lista das drogas perigosas até que a ONU resolveu excluí-la dessa lista por reconhecer-lhe propriedades terapêuticas. Que tem. Os ancestrais usam-na para tratar diversas maleitas.

E isso muda a relação dos países com a canábis que passa a ser legal em muitos.

Até aqui a circulação da canábis era para usos maioritariamente recreativos e por circuitos ilegais.

Agora, nos países que legalizaram a canábis para fins medicinais (ainda é ilegal a comercialização para fins recreativos em muitos locais) o seu cultivo e comercialização pode representar uma potencial e importante fonte de receita, pelos impostos, para os respectivos estados.

Aliás há quem insinue que os principais opositores da legalização da canábis são justamente os seus traficantes, que lucrariam muito mais com o seu comércio no mercado negro.

É possível.

 

Drogas ilegais, ópio, papoila  Papaver somniferum

Mas também existe o risco da legalização da canábis recreativa poder tornar-se um problema de saúde pública.

Posto isto para onde nos queremos dirigir com este artigo?

Á canábis na terra, ao papel da canábis nos países que a produzem e comercializam.

Quando se baixam um pouco os véus do preconceito, a informação começa a aparecer timidamente.

E há países cuja relação com a canábis o seu potencial impacto na economia, directa ou indirectamente, é no mínimo: surpreendente.

E se calhar podemos começar pelo Afeganistão.

Sim: esse mesmo país que tem sido palco de guerras, há décadas já.

 

A terra com a maior produção de canábis.

É mesmo o Afeganistão.

O paradoxo vem com estes factos:

  • o Afeganistão é o maior produtor mundial de canábis (mais especificamente de haxixe, dados de 2010).
  • a canábis é ilegal no Afeganistão.

A verdade é que o Afeganistão tem uma tradição de produção local e artesanal de canábis, também tem uma tradição cultural de consumo de haxixe.

Canábis, haxixe

O haxixe é uma secreção orgânica, uma resina, que sai da canábis. Haxixe é a resina, uma secreção orgânica que sai da planta, e é armazenada em bolsas de couro par curar. Os afegãos não consomem as flores secas mas fumam a canábis na forma de haxixe.

Sendo o maior produtor mundial certamente que não é apenas agricultura de subsistência: tem mercado. E pelos vistos mundial.

O paradoxo está na ilegalidade.

Também no topo de produção de haxixe está Marrocos, e que em 2023 plantou a sua primeira safra legal de canábis.

Os agricultores tradicionais estão a retrair-se à entrada no mercado legal devido aos altos custos iniciais envolvidos, obstáculos administrativos e standards de qualidade. Tudo isso faz com que o mercado negro (dos barões da droga) seja mais apelativo: mais simples, mais lucrativo, para todos envolvidos.

Por enquanto, continua a ser ilegal a comercialização para fins recreativos.

Se estivermos a falar de cânhamo, o maior produtor do mundo é a China e aqui os dados são de 2014: a China de detêm 70% da produção global.

 

A terra que representa o maior mercado global (legal) de canábis.

O mercado global de canábis estima ter uma taxa de crescimento anual de 3,01% e uma receita mundial de canábis que deve atingir os US$ 64,73 bilhões em 2024.

E quais são os países que lideram este mercado?

A China, os EUA, o Canadá e o Uruguai.

A China, tem grandes extensões de cultivo de canábis, tendo esta actividade sido tornada legal em 2010. Existem 2 regiões dedicadas ao cultivo de canábis, Heilongjiang, no norte, e Yunnan, no sul do país. O cultivo de cânhamo representa 70% da produção mundial em 2014 e é líder de mercado até hoje.

 

Nos EUA  e em 2020 houve um aumento de 46% de vendas em relação ao aon anterior  que atingiu um volume anual de vendas de US$ 17,5 bilhões. O governo americano colectou mais de US$ 7 bilhões em impostos

 

No Canadá  a canábis para fins medicinais foi legalizada em 2001 e para fins recreativos em 2018.  Em 2020 a indústria da canábis teve um crescimento significativo no Canadá: representou 0,3% do PIB com um valor de US$ 5,5 bilhões.

A título de exemplo a cidade de Toronto, com a legalização da canábis recreativa, iniciou janeiro de 2020 com um volume de vendas de US$ 13,2 milhões (e apenas 7 lojas) e em dezembro do mesmo ano o volume de vendas foi de  US$ 31,2 milhões (com 87 lojas).

 

No Uruguai o volume de vendas é mais humilde comparativamente os anteriores mas ainda assim está no top do mercado global.

Segundo dados de 2019 o país US$ 1,9 bilhão em produtos oriundos das cerca de 50 plantações de cânhamo existentes no território uruguaio à época.

Há alguma dificuldade quantificar volume de produção do país porque a legislação uruguaia permite que a população plante até 6 pés de canábis em casa: isto incentiva e facilita a economia doméstica, mas pode dificultar o rigor da estatística nacional.

 

Indústria de canábis: volume de vendas, fonte de receita fiscal

A terra onde a percentagem de população consumidora é maior.

Espante-se: a pequena Israel lídera o ranking, onde 27% da população adulta consmiu canábis (dados de 2020). Israel é seguida da Jamaica e logo depois os Estados Unidos da América.

Pode ser um bocado precipitado pensar que os israelitas são o top de maconheiros.

Talvez seja perspicaz observar que Israel autoriza o uso da canábis para fins medicinais no tratamento de pacientes de cancro, de Parkinson e esclerose múltipla, a doença de Crohn , doenças com dor crónica associada e  stress pos- traumático. E esse volume contribui para a elevada percentagem da população consumidora.

Além do mais a população judaica é conhecida por “seguir o dinheiro” e o mercado de canábis está em ascensão: onde há mercado, o dinheiro flui e tende a crescer.

 

A terra onde mais pesquisa se faz em canábis.

São cinco os países líderes mundiais na pesquisa de canábis: Uruguai, Canadá, Holanda, República Checa e Israel.

Mais uma vez: Israel.

Israel dos primeiros países a legalizar a canábis para fins medicinais - o primeiríssimo foi o Uruguai em 2013, e tem sido o epicentro da canábis medicinal.

Israel destaca-se porque foi devido ao trabalho de pesquisa do químico israelita de origem búlgara, Raphael Mechoulam (falecido em Março de 2023).

Canábis, pesquisa científica

A pesquisa de Mechoulam, que incluiu a co-descoberta do sistema endocanabinoide, o maior sistema receptor do corpo humano: nesta pesquisa descobriu-se que o cérebro humano produz os seus próprios canabinóides.

A identificação do sistema endocanabinoide foi o que despertou o interesse e legitimou o estudo  dos constituintes da canábis na forma como os canabinoides interagem com esse sistema receptor.

Seja pela pesquisa científica, pelos benefícios terapêuticos, seja pelo volume de negócios, sendo todos igualmente apelativos: há sempre algo surpreendente para saber sobre a canábis.

 

Referências:

 

AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE CONSELHIA DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE POSSA TER, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVE PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.

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