CANABIS E CHOCOLATE: PODE RESULTAR EM BROWNIES
by Eunice Veloso on Jun 12, 2024
A junção da canábis com o chocolate é conhecida.
Quem é que nunca ouviu falar dos famosos brownies? E quando se referiam a esses “brownies” a palavra era sussurrada , quase como se estivessem a colocar umas aspas verbais, a dizer que eram “brownies com mais qualquer coisita...”?
Mas nem só de brownies vive a coligação canábis-chocolate.
Hoje a oferta é vasta: barras de chocolate, bebidas, sobremesas de restaurante que usam infusões de canábis… A criatividade de cada um é o único limite.
Creio que a expressão “power-couple” é mais que apropriada aqui, entre a canábis e o chocolate. Separados são poderosos. Juntos são poderosos.
O que é que faz desta união tão especial?
Já sabemos que o universo dos sentidos, do sabor e não só, têm um papel importante aqui.
Mas será que os efeitos da canábis são anulados ou atenuados quando combinados com o chocolate? Um estraga ou outro elemento? Ou, pelo contrário e potencializam-se?
Vamos fazer uma ligeira imersão na canábis e no chocolate, separados, juntos e ver onde nos leva.
#1. CANÁBIS E CHOCOLATE: O QUE É QUE PARTILHAM EM COMUM?
Para além de serem culturas agrícolas de costume ancestral: partilham sim algo mais em comum: o sistema endocanabinoide e os seus receptores.
Mas vamos só dar uma ligeira achega da “antiguidade”. São efectivamente dois veteranos dos hábitos humanos, sendo o uso da canábis ainda mais antigo do que uso do accão, segundo os registos escritos.
@Sobre o chocolate
O cultivo de cacau é antigo: os primeiros vestígios de plantação da cacau datam de do período de 11150-1400 AC e a planta é nativa da América Central a partir do México estendendo-se até América do Sul.
É da civilização Maia que lhe vem o nome: este povo fazia uma bebida amarga feita à base de sementes da cacau e aromatizada com baunilha e pimenta: o xocoatl .
Os Maias atribuíam ao chocolate propriedades afrodisíacas e também usavam-na para combater o cansaço.
Os Aztecas cujo império reinou na mesma região durante o período de 1325- 1521 DC, para além de considerarem o cacaueiro uma planta sagrada, usavam as suas sementes como divisa. e meio de pagamento.
Montezuma, o último imperador azteca antes da colonização espanhola era conhecido por usar o cacau como afrodisíaco, tal como os Maias o faziam anteriormente.
Isto só para referir o valor do cacau nas civilizações ancestrais como moeda de troca e também a fama de afrodisíaco que, vem desde aí.
Hoje sabe-se que o consumo de chocolate está associado ao seguintes benefícios para a saúde:
- Reduz os riscos de doença coronariana, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes;
- Melhora os biomarcadores lipídicos colesterol LDL e HDL
- É neuroprotector, reduzindo o risco de doenças como Alzheimer e Parkinson, ·
- Melhora a função cognitiva de curto prazo.
- É um antioxidante excelente, sendo ainda mais activo que os mirtilos
Só para concluir sobre o chocolate, ele tem estes componentes químicos que estão associados à sensação de bem estar e melhoria do humor:
- Anandamida: que é a versão de THC (componente psicotrópico da canábis) , que o nosso corpo produz naturalmente. A anandamida ajuda a regular o apetite, o prazer e a sensação de recompensa.
- Cafeína (1,3,7-Trimetilxantina): aumento da frequência cardíaca e contração muscular
- Teobromina: O chocolate é a maior fonte alimentar deste componente: é estimulante, é vasodilatadora e atua em parceria com a cafeína para aumentar a energia.
- Triptofano: ´a presença deste aminoácido nor organismo ajuda o corpo a produzir serotonina – um hormônio essencial para o humor, o bem-estar e a felicidade.
- Feniletilalanina: Este é o produto químico associado à sensação de “frio na barriga” que temos. Estimula sentimentos de excitação, atração e nervosismo.
É possível, resumindo de uma forma simplista, que estes componentes combinados sejam a causa do chocolate ser considerado afrodisíaco.
Mas registem a anandamida, a teobromina e o triptofano: esses são os componentes que ligam o chocolate à canábis, directa ou indirectamente, e fazem desta uma combinação especial.Mas se o chocolate é planta de cultural ancestral: canábis ainda é mais.
@Sobre a canábis
O uso da canábis data de 12 mil atrás, na China desde aí que é usada para vários fins (fabrico de cordas e de tecidos por exemplo) inclusive medicinais.
Os ancestrais sabiam-no pelo conhecimento empírico, mas hoje já está sustentado pelo conhecimento científicos e realçam-se aqui as suas propriedades ansiolíticas (diminuem a ansiedade) e analgésico (diminuem a perceção da dor).
O sistema endocanabinoide tem que ser aqui referido porque é através deste sistema que que os canabinoides da planta canábis interagem com o organismo humano.
E é pelo mesmo sistema que o chocolate também manifesta os seus efeitos.
O sistema endocanabinoide existe corpo humano (e dos mamíferos) a par do sistema circulatório, nervoso, linfático, respiratório… Isto serve para referir que, embora tenha sido identificado no século XX, o sistema endocanabinoide faz parte da constituição humana.
O sistema endoncabinoide tem receptores canabinoides, CB1 e CB2, que estão espalhados pelo corpo.Os canabinoides produzidos naturalmente pelo corpo ligam-se a estes receptores.
A anandamida é um dos canabinoides naturalmente produzido pelo corpo. O chocolate tem anandamida.Os ditos receptores são os mesmos aos quais se ligam os fitocanabinoides da planta canábis, nomeadamente o THC e o CBD.
@Sobre o que têm em comum: o chocolate e a canábis
De certa forma já se mencionou o elo de ligação: é o sistema endocanabinoide os receptores canabinoides.
Acima neste artigo foi sugerido reter: os nomes destes 3 componentes do chocolate: a anandamida, a teobromina e o triptofano.
Vamos começar pelo triptofano: também faz parte da constituição química da canábis. É o tal componente, um aminoácido essencial não produzido pelo corpo (obtido pela dieta alimentar) que estimula a produção de serotonina.
Tanto o chocolate como a canábis são fontes de triptofano.
E a teobromina? A canábis também tem teobromina?
Não, não tem. Mas diz-se que a teobromina ressente no chocolate inibe a degradação da anandamida.
E isso significa o quê? Significa que o organismo fica com quantidades mais elevadas de anandamida disponíveis no corpo.
Ora se bem te lembras a anandamida é o “THC de produção interna”: que nos dá a sensação de euforia e recompensa.
E usa o mesmo receptor CB1 que o THC usa para se ligar ao organismo.
Mas se a canábis já tem THC, que é uma fonte externa e se juntar a anandamida produzida no organismo (que tem efeitos similares): não há o risco de ficar com excesso da mesma a circular pelo organismo?
Mais ou menos. Na realidade o risco que existe é outro.
A anandamida em si não é tóxica ao organismo: não dá trip.
O que acontece é o THC. Se o teor de THC for elevado, o risco que existe de toxicidade é mesmo da responsabilidade do THC por si só.
O efeito do THC sobrepõe-se á anandamida: é muito mais forte e pode levar o organismo a regular, negativamente, os receptores canabinoides para aquele teor: e organismo fica “preguiçoso” para produzir anandamida por si só.
É por isso que o uso repetido e prolongado no tempo de canábis pode levar a que o organismo fique demasiado tolerante ao THC e sejam necessárias doses mais elevadas para produzir os mesmo efeitos.
E isso é sinónimo de dependência.
Para quem gosta de canábis é importante fazer pausas.
Para evitar que isso aconteça é importante para evitar desenvolver tolerância à canábis. Também significa que pode alterar o funcionamento normal do sistema endocanabinóide do seu corpo em circunstâncias normais.
#2. OS MAIS CONHECIDOS SÃO OS BROWNIES: É MODA OU MITO? DIZER QUE A JUNÇÃO CANÁBIS+CHOCOLATE POTENCIA OS EFEITOS DOS DOIS?
E agora vamos aos famosos brownies.
Há quem pregue que o chocolate pode enaltecer os efeitos do THC. Já vimos que não é bem assim.
Além disso é preciso referir que o consumo de canabinoides (THC em específico) quando consumido através de alimentos, qualquer forma que passe pelo sistema digestivo: tem um outro risco acrescido, que será abordado mais abaixo. (ver #3.)
Vamos partir aqui do princípio de que não está a haver um uso abusivo de canábis.
Quer esteja a ser usada para efeitos recreativos ou fins terapêuticos, a canábis quando combinada com o chocolate: vai dar ao utilizador o melhor dos dois mundos numa só experiência.
Se o teor em THC for seguro o que acontece quando combinado com o chocolate o que vai fazer é que a anandamida permaneça no organismo por tempos mais prolongados: a sensação de bem-estar dada pelos dois componentes vai durar mais tempo.
Claro que nem só de brownies vive a combinação de canábis como chocolate.
A indústria da alimentação anda criativa e em polvorosa: são bebidas são sobremesas, são gummies mas até mesmo os produtos tópicos (para a pele).
Mas o segredo do chocolate é a gordura que os seus grãos possuem. Os grãos de são 55% de lípidos: seja chocolate preto ou branco.
Aliás qualquer tipo e gordura: óleo de côco, abacate, manteiga… vai permitir extrair os canabinoides da planta e tirar os benefícios dos mesmos.
E para além do questão da gordura do cacau a verdade é que o chocolate melhora o sabor da canábis.
Há gente que consome canábis e não gostam de fumar. Há quem esteja medicado como canábis medicinais sob a fora de ingeríveis e não gosta do sabor. O chocolate sabe ao que sabe, é delicioso e melhora o sabor da canábis.
A vida sexual também pode beneficiar pelos índices de relaxamento, simultaneamente de excitação causada pela canábis e os efeitos afrodisíacos do chocolate.
A canábis em si pode ser mais positiva para as mulheres do que para os homens, quando se fala de uso prolongado no tempo e é dependente da dose.
#3. UMA QUESTÃO A TER EM ATENÇÃO, QUANDO SE FALA DE CANÁBIS QUE PASSA PELO APARELHO DIGESTIVO
Qual é o riso dos brownies ou qualquer ingerível /alimento com canabinoides?
É o ter que passar pelo aparelho digestivo.
Quem consome canabinoides seja pelo fumar ou sublingual: os efeitos são rápidos.
Se se fuma, os canabinoides vão para os pulmões e entram rapidamente na corrente sanguínea.
Se for sublingual: debaixo da língua existem imenso vasos sanguíneos e os canabinoides são rapidamente absorvidos pelo organismo também.
Quando se fala de canabinoides, em particular o THC (que em teores acima de 0,2% é psicotrópico) se for ingerido: a absorção é lenta porque tem que passar pelo estômago e depois pelos intestinos. E só quando chega aos intestinos é que é é absorvido pelo organismo.
Isso significa que uma pessoa só começa a sentir os efeitos dos THC passados 2 horas: quando começar a digestão e vai depender muito da quantidade de comida que tiver ingerido durante um jantar, por exemplo, seguido de uma sobremesa com canabinoides.
E entre sentir os efeitos do canabinóides , o THC, que é o critico; pode ter comido um brownie, dois brownies, três brownies….
E a situação facilmente fica fora de controle e só se dá conta tarde demais. E se tiver havido algum excesso os efeitos do desconforto podem permanecer por 6 ou mais horas. Tudo depende da teor THC da canábis infundida no brownie…
Se for cânhamo não há risco porque o teor de THC é inferior a 0,2% e nesse teor não é psicotrópico. Já a canábis não é inócua. É preciso cautela e consciência.
Referências:
https://www.thegreendragoncbd.com/blog/does-chocolate-enhance-your-high
(https://www.ecolechocolat.com/en/chocolate-blog/chocolate-and-cannabis.html)
https://www.eatingwell.com/article/7591435/heres-what-happens-to-your-body-when-you-eat-edibles/
https://www.royalqueenseeds.com/blog-how-to-pair-chocolate-with-cannabis-n1414
AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE SER UM CONSELHO DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE TENHA, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVEM PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.