O GOSTO AMARGO NA BOCA: DO FIGADO E A CANABIS
by Eunice Veloso on Jun 19, 2024
Aquele gosto amargo que de vez em quando sentes na boca: pode ser do fígado.
Pronto: também pode ser que tenhas a boca seca (e isso resolve-se com hidratação) , pode ser refluxo gástrico, pode ser um mau funcionamento dos rins: o mais sensato é consultar o médico, para identificar a causa, se esse gosto amargo, com um quê de metálico, aparecer.
Mas pode ser do fígado. Aqui vamos falar do fígado, da canábis e dos seus componentes - o CBD em específico.
Uma relação interessante está entre os pacientes com psicose e o desenvolvimento de doenças hepáticas, atribuídas aos medicamentos anti-psicóticos . O mecanismo que dá origem a doenças hepáticas associadas á toma de medicamentos anti-psicóticos está ainda por esclarecer.
#1. AS DOENÇAS DO FÍGADO MAIS COMUNS
Já se sabe qualquer prefixo de palavra que seja “hepato”: está relacionado com o fígado.
Factos: as doenças de fígado provocam 2 milhões de mortes, perfazem 4% da mortalidade global e no ranking de causas de morte situam-se no 11º lugar.
E as primeiras causas de morte relacionadas com o fígado decorrem de complicações da cirrose e e do cancro do fígado.
As maleitas de fígado também são designadas por doenças hepáticas. Estas são as mais comuns:
@1.1 - Fígado gordo (ou esteatose hepática)
Caracteriza-se por um fígado em que 5% do se peso total corresponde a massa gorda.
Pode ser devido a disfunções do metabolismo do fígado ou ao excesso de consumo de álcool. E podem dar origem às famosas cirroses.
@1.2 - Fibrose Do Fígado (Ou Fibrose Hepática)
São cicatrizes no fígado, quando este é exposto a agressões repetidas: essas cicatrizes formam um tecido fibroso.
Se houver uma lesão aguda no fígado, como o caso de uma hepatite viral: a células do fígado regeneram-se e substituem as que morrem.
Se o fígado continuara a ser atacado e a lesão persistir: o fígado deixa de ter capacidade de se regenerar e a células mortas são substituídas por tecido fibroso.
Se a extensão da área de tecido fibroso for grande: a doença evolui para uma cirrose hepática.
E a cirrose hepática aumenta o risco de progressão para uma insuficiência hepática (e pode haver a necessidade de um transplante) ou por outro lado, para um cancro no fígado.
@ 1.3 - Cancro No Fígado (Ou Carcinoma Hepatocelular)
O carcinoma hepatocelular é o tipo de cancro mais comum originado no fígado. Ele ocorre geralmente em pessoas que apresentam uma cicatrização grave do fígado – cirrose.
Ter hepatite B, hepatite C, fígado gordo ou consumir excesso de álcool aumenta o risco de desenvolver o cancro no fígado.
@1.4 – Infecções Virais: As Hepatites
As hepatites são inflamações no fígado.
Nem todas as hepatites são de origem viral: também podem decorrer do consumo abusivo de álcool, de abuso de drogas, do consumo de cogumelos selvagens e de determinados medicamentos.
Mas também podem decorrer de alterações do sistema imune que d+á origem ao sangue gordo (esteatose).
As mais comuns hepatites de origem viral são: a hepatite A, a hepatite B e a hepatite C.
@1.4 – Lesões Químicas Do Fígado
São lesões no fígado causadas por substâncias químicas: o consumo de cocaína, o consumo medicamentos antipsicóticos pode levar a lesões neste órgão.
@1.5 – Lesões Isquémicas-Reperfusão Do Fígado
Este tipo de lesões pode ocorrer durante cirurgias ou transplantes de fígado onde ocorrem danos a este órgão devido fluxo de sangue e oxigénio inadequado (diminuição ou suspensão do fluxo).
#2. O EFEITO DA CANÁBIS E DO CBD NAS DOENÇAS DE FÍGADO
Muitos estudos são pré-clínicos (que são ensaio de segurança, feitos em animais), mas também há estudos feitos em humanos.
O que os estudos demonstram é que o tanto a canábis como o CBD em específico representam um grande potencial de tratamento de doenças do fígado.
Abaixo seguem as conclusões de algumas pesquisas sobre efeito da canábis e derivados nas patologias do fígado.
@2.1 - O CBD No Fígado Gordo (Esteatose Hepática)
Estes resultados foram obtidos em pesquisas feitas com modelos animais:
- O CBD protege o fígado. Nos casos de gordura hepática: protege o fígado contra a degeneração celular.
- O CBD tem um efeito terapêutico específico de reduz a inflamação e diminui o stress oxidativo no fígado
Muitos estudos sugerem que há uma relação íntima entre a ocorrência do fígado gordo e as alterações na microbiota intestinal.
Em ratos com a alimentação suplementada com CBD durante 6 semanas: reduziu a inflamação no fígado, diminuiu o desequilíbrio na microbiota intestinal aumentou os lactobacilos no intestino.
Neste caso é dose-dependente:
- os ratos alimentados com 2,39 mg/kg durante 6 semanas viram melhorias na redução da inflamação.
- Quando os ratos foram alimentados com suplementos 5 mg/kg de CBD a cada 3 dias: aumentaram os indicadores de inflamação no fígado e diminuir o diversidade da microbiota.
@2.2 - O CBD Na Fibrose Do Fígado
Tal como foi referido acima, a fibroso é o tecido que resulta da cicatrização, quando fígado é exposto a sucessivas agressões e deixa de ter capacidade de se auto-regenerar (formar células novas)
E quais os efeitos do CBD nos casos de fibrose do fígado?
- O CBD modera a formação de novos tecidos fibrosos no fígado
- Atenua a inflamação e o stress oxidativo
- Reduz a acumulação de lípidos
- Estimula a autofagia (mecanismo de limpeza, aonde o nosso corpo 'joga' fora as impurezas)
- Promove a apoptose (mecanismo de remoção das células potencialmente cancerosas e infectadas por vírus) e mantém o equilíbrio no corpo.
- Reduz a deposição da gordura relacionada com o álcool e a fibrose no fígado
@2.3 – O CBD E O Cancro No Fígado E As Metásteses
O CBD tem demonstrado efeitos inibitórios na proliferação e migração de células cancerígenas.
Num estudo de 4 anos que envolveu pacientes com cancro que usaram CBD farmacêutico, 92% dos casos apresentam uma redução na circulação da s células cancerígenas ou diminuição do tamanho do tumor.
Este mesmo estudo sugere que a administração intermitente do CBD é mais eficaz do que a administração contínua de CBD: a dosagem do CBD é determinado pela massa do tumor.
O CBD favorece o seguinte:
- induz apoptose (mecanismo de remoção das células potencialmente cancerosas e infectadas por vírus) em células tumorais,
- inibe a invasão e metástase de células cancerígenas, e exerce efeitos imunomoduladores
- a combinação do CBD com medicamentos anticancerígenos aumenta a eficácia de certos medicamentos anticancerígenos
@ 2.4 – O CBD nas Infecções Virais do Fígado
Nas hepatites por infecção viral o CBD tem mostrado ter efeitos preventivos e terapêuticos no HIV e no Covid.
A pesquisa ainda é limitada, relativamente papel do CBD, e indicam que este inibe a replicação do vírus da hepatite C e é dependente da dose. No entanto não mostra ter qualquer efeito contra a infecção de hepatite B.
@ 2.5 – O CBD Nas Lesões No Fígado Causadas Por Químicos
Os efeitos protectores do CBD no fígado, em casos de danos causados por substâncias químicas, provém essencialmente da sua capacidade de inibir o stress oxidativo.
O CBD também alivia a inflamação aguda induzida pela cocaína assim como evitou convulsões causadas pela intoxicação por cocaína.
@ 2.6 – O CBD Nas Lesões Por Isquémia-Reperfusão
Também aqui os efeitos do CBD são significativos e já acima mencionados: diminui a inflamação, o stress oxidativo e a morte das células CBD.
@ 2.7 – O CBD Na Diabetes e no Metabolismo da Glucose Hepática
Em modelos animais (ratos) o CBD reduziu significativamente a incidência de diabetes. Isso foi atribuído á redução da inflamação causada pela insulina destrutiva e também da diminuição das proteínas inflamatórias (citocinas) produzidos pelo pâncreas.
Num estudo feito em ratos alimentados como uma dieta rica em colesterol o CBD reduziu os níveis de glicose no sangue num teste oral de tolerância à glicose de duas horas [22].
Já no que respeita a diabetes tipo 2 os ensaios clínicos com CBD não mostraram quaisquer melhorias nos parâmetros de glicémia e lípidos.
#3. A TRIADE ANTIPSICÓTICOS, DOENÇA HEPÁTICA E CBD
A primeira questão que vos pode surgir é: o que é que os antipsicóticos têm a ver com o fígado?
É que pacientes com psicoses tratados com antipsicótico apresentam um risco acrescidos de desenvolverem alteração no funcionamento do fígado, mesmo numa fase inicial de tratamento da psicose.
E o risco de desenvolver doenças crónicas no fígado aumenta quando a exposição aos psicótico é prolongada no tempo.
Um total de 390 pacientes foram avaliados num estudo de 3 anos desde o início de tratamento antipsicótico.
À excepção de 6,7% os pacientes nunca haviam tomado antipsicóticos á entrada e eles auto-reportaram o uso de canábis no início e final do estudo.
Os parâmetros do estudo incluíram a avaliação do gordura no fígado e a fibrose hepática.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
- durante os 3 anos de acompanhamento os consumidores de canábis apresentaram níveis de gordura no fígado significativamente mais baixos do que os não consumidores.
- os pacientes que mantiveram o consumo de canábis após 3 anos apresentaram um menor incremento de massa gorda no fígado, quando comparados os que descontinuaram o consumo de canábis
- não foram observadas diferenças nas avaliações da fibroses associada ao consumo de canábis.
Relativamente a pacientes esquizofrénicos crónicos com tratamento aplicado costumam apresentam um aumento de gordura visceral e hepática quando comparados com o grupo de controlo.
Há estudos recentes que demonstram uma prevalência de acumulação excessiva de gordura no fígado (esteatose hepática) de origem não alcoólica, associada ao sedentarismo e ao excesso de dieta calórica .
Os mesmo factores de risco também estão presentes nos doentes psicóticos.
Curiosamente o consumo de canábis é mais prevalente entre os paciente psicóticos.
As conclusão a que os pesquisadores chegaram foi que :
- o consumo de canábis tem um efeito protetor contra o ganho de peso e contra a obesidade na psicose.
- que o consumo de canábis pode produzir efeitos protetores contra a acumulação de gordura no fígado (esteatose hepática), muito provavelmente pela regulação do ganho de peso induzido pelos antipsicóticos.
Referências:
https://www.hempathiclight.com/blogs/news/cbd-and-alcohol-consumption
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0278584619301393
AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE SER UM CONSELHO DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE TENHA, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVEM PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.