CANHAMO OU CANABIS: ELEVE OS SEUS CRITERIOS DE EXIGENCIA
by Eunice Veloso on Sep 25, 2024
É preciso encarar os factos: a canábis veio para ficar.
Que não haja engano aqui: a canábis sempre existiu na natureza e há muito que é utilizada para vários fins, nas culturas tradicionais. Para fins medicinais e recreativos também, mas não só.
Estava no mercado negro, porque foi cancelada, por motivos não tão claros, mas certamente que políticos-sociais.
Agora, por motivos também não tão claros assim, e talvez não tão político-sociais, saiu do cancelamento.
Ao sair do cancelamento obriga a legalização e regulamentação. E isso é bom.
Mas existem sempre os dois lados da moeda. E ainda a face lateral (a do perímetro) da moeda.
O facto de ter sido dado o início á legalização, não significa que já existam critérios claros de exigência: de qualidade de produção, de qualidade de produto, de teor de componentes, de contaminantes.
Tudo isto afecta a segurança do consumidor.
Quer a canábis ou o cânhamo sejam usados para fins medicinais ou para fins recreativos.
E a legislação não vai “matar” o mercado negro: só vai buscar uma parcela do mercado na forma de impostos: receita para os estados.
O público alvo, a clientela, o consumidor: sempre esteve por aí.
E agora o público alvo até aumentou por conta da exploração do mercado da canábis medicinal e o seu enorme potencial terapêutico.
OS RISCOS: SE É CONSUMIDOR DE CANÁBIS
Se está a considerar adquirir produtos derivados de canábis: é importante elevar os seus critérios de exigência.
Até há pouco mais de uma década, quem queria adquirir canábis tinha, obrigatoriamente que recorrer ao mercado negro.
O problema do mercado negro agora é que tem concorrência. E é legal.
E isso pode representar um elevado risco para o consumidor. Porquê?
#Alguns dos Riscos Para o Consumidor
Porque é que representa um risco para consumidor o facto do mercado negro ter agora concorrência legal?
Porque o mercado negro pode perder clientes. E não quer perder lucros.
E como é que isso seria assegurado? Os lucros?
O mercado negro poderia, eventualmente, “converter-se” para o mercado legal.
Mas o processo é demasiado burocrático, e depois existe a legislação, os limites em teores de THC: e na maior parte dos países a canábis para fins recreativos continua a ser ilegal.
Uma alternativa óbvia para o mercado negro, é continuarem no negro, mantendo os clientes fiéis.
Como é que se mantém os clientes fieis? Mantendo-os “agarrados”.
E como é que isso é feito? Manipulando geneticamente as variantes de canábis para obterem plantas com teores que podem rondar os 80% de THC , o componente psicotrópico e viciante da canábis. E canábis com 80% de THC é vicio garantido, muito rapidamente.
Não há cliente mais fiel do que um cliente viciado.
A canábis da década de 70 não é igual á que circula nos mercados hoje. A canábis hoje, não é o que era. Na década de 70 o teor de THC era pouco mais do que 2%.
Vivemos em épocas de consumismo estimulado ao ponto da obsessão – nenhuma cota de mercado é suficientemente ambiciosa. Vemos a manipulação para o consumo acontecer de forma altamente desregulada, em vários sectores: banca, entretenimento, bens de consumo duráveis e não duráveis…
O mercado de consumo hoje é o Texas na altura da colonização do Novo Mundo: “a terra pertence de quem chegar primeiro”. Neste caso “o primeiro” é quem mais ousa tirar partido (abusar) da desregulação (intencional ou não) dos mercados.
E o mercado da canábis não é diferente.
ALGUNS MERCADOS JÁ SÃO REGULADOS
Se o mercado negro, tal como o nome indica, é obscuro, o mercado legal já tem alguma regulamentação.
- A Europa em relação à canábis as regras são firmes, o circulo de abrangência restrito: só o cânhamo é legal assim como a canábis para fins medicinais, que tem legislação específica.
- O Canadá, onde industria canábica é um mercado regulado, os produtos que sejam de fontes regulamentadas pelo governo, têm que apresentar com precisão o conteúdo de canabinoides e estar livre ou dentro de uma faixa aceitável de contaminantes micro-organismos, diluentes ou aditivos.
- No EUA o cenário tende para a regulamentação mas é mais caótico porque a canábis é legal em alguns estados, seja para fins medicinais ou recreativos, mas ao nível federal continua a ser ilegal.
Ainda assim existe um esforço concertado para estandardizar o sector da industria canábica ao nível internacional.
As normas são uma base valiosa que elimina a confusão quando se quer definir qualidade, segurança e conformidade na indústria canábis: desde os cultivadores aos consumidores finais, passando pelos laboratórios e incluindo os legisladores.
E aqui entram as Normas ISO. O workshop internacional da ISO, realizado em 2022 e que contou com a participação de 22 países e do qual participaram resultou na celebração de três acordos internacionais:
- ISO IWA 37-1:2022, - Regulamenta a protecção das instalações/equipamentos e operações de extracção do óleo da canábis
- ISO IWA 37-2:2022, - Regulamenta o processamento seguro da canábis e dos seus produtos
- ISO IWA 37-3:2022, - Regulamenta as boas práticas de produção
Certamente que os padrões e diretrizes ISO isso a serem aplicadas pelos demais países garante uma uniformização dos parâmetros consistência, segurança e qualidade na industria de canábis: desde a semente até ao produto final.
Também é certo que facilita as empresas entrarem para os mercados internacionais e posicionarem-se no longo prazo.
Vamos assumir que a empresa XYZ certifica-se pelas normas ISO. No entanto pode levar alguns anos até vermos que este passar a ser o critério de escolha dos produtos por parte do consumidor.
Mas e no agora? Como é que o consumidor pode e deve escolher os seus produtos canábis para minimamente assegurar que está a adquirir produtos de qualidade?
Talvez precise de elevar um pouco os seus critérios de exigência.
ELEVE OS SEUS CRITÉRIOS DE EXIGÊNCIA: PROTEJA-SE
Não é suficiente olhar ao preço e comprar o produto mais em conta.
Se quer comprar produtos de canábis é certo que tem algum objectivo em mente. Seja atenuar a ansiedade, quer seja atenuar dores, quer seja moderar as mudanças de humor, seja para entretenimento. Foram exemplos.
Se deseja obter um determinado resultado é fundamental que o conteúdo do seu potencial produto esteja plasmado na embalagem e que possa confiar no que lá está escrito. Se quer um extracto de CBD não é suposto ter nenhuma quantidade de THC. Se quer um produto de cânhamo “full spectrum”: deve esperar ter todos os canabinoides no seu conteúdo. Foram exemplos.
Isto é o que deve “investigar”:
- Certificado de análises. Verifique se o produto tem um certificado de Análise. O certificado de análise refere o nome do produto a que se refere, contem uma lista dos canabinoides e respectivos teores assim como um data de emissão e uma validade de 12 meses. Mais de 12 meses desde a data de emissão e o certificado já não é válido. Como o Cartão de Cidadão. Pesquise a marca
- Origem do produto. Porque é importante? Porque se a origem é europeia é certo que será cânhamo e portanto com baixo teor de THC (inferior a 0,3%). Se for de origem americana ou canadense poderá ter muito mais teor em THC.
- A marca ou empresa que comercializa., Convém saber se a empresa é certificada. A certificação sempre garante uma maior segurança na qualidade do produto. Uma pesquisa na internet ou em organismos certificadores será o suficiente.
E você dirá : “Ah mas isso da muito trabalho”.
Pois, talvez: mas os produtos de canábis/cânhamo não são necessariamente baratos e o seu corpo é a sua embalagem: merece cuidado. Mesmo que seja na escolha do que fuma.
Referências:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4204468/ (2014)
https://latam.ul.com/pt-br/news/ul-solutions-lidera-acordos-de-workshop-da-iso-sobre-cannabis
AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE SER UM CONSELHO DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE TENHA, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVEM PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.