CAPACIDADE COGNITIVA: AFINAL, O CANHAMO E A CANABIS AFECTAM OU NAO?
by Eunice Veloso on Jul 03, 2025
Será que o uso de produtos derivados de cânhamo ou canábis compromete nossa capacidade cognitiva? E há diferença entre o impacto do cânhamo – a variante não psicoativa – e o da canábis, seja medicinal ou recreativa? Vamos por partes.
A capacidade cognitiva refere-se ao conjunto de funções do nosso cérebro que usamos para ter atenção, memorizar, raciocinar, aprender e resolver problemas. Em resumo, é tudo aquilo que empregamos para pensar, entender e tomar decisões. Essas habilidades são fundamentais para o desempenho acadêmico, profissional e social. Atenção, memória, linguagem, resolução de problemas e pensamento crítico são exemplos centrais dessas funções. Preservar essas capacidades é vital para manter a autonomia e qualidade de vida.
Mas será que o consumo de substâncias como os canabinoides, presentes no cânhamo e na canábis, pode comprometer esse equilíbrio?
Embora ambas sejam plantas da família Cannabis, os seus efeitos no cérebro podem ser bastante distintos, pois apresentam composições químicas diferentes. O cânhamo possui níveis muito baixos de THC (menos de 0,3% na maioria dos países), enquanto a canábis pode ter concentrações bem mais elevadas dessa substância psicoactiva. Essas diferenças influenciam directamente os efeitos no cérebro. Mas será que essas substâncias ajudam ou atrapalham o funcionamento cognitivo? Vamos explorar este assunto.
Há o Risco de Comprometer as Capacidades Cognitivas com o Consumo de Canabinoides do Cânhamo ou da Canábis?
As plantas do género Cannabis, incluindo o cânhamo, ainda guardam muitos mistérios. A ciência ainda não teve tempo suficiente para compreender plenamente os mecanismos de ação dos canabinoides no corpo humano. Em várias situações, os resultados dos estudos não são unânimes; noutras, conhecem-se os efeitos, mas não o "como" nem o "quanto".
Sobre as capacidades cognitivas: sim, os canabinoides têm impacto. Mas isso não significa necessariamente comprometimento negativo – tudo depende do tipo de canabinoide e da sua proporção.
O CBD (canabidiol), por exemplo, tem demonstrado potencial para melhorar a cognição. Já o THC (tetra-hidrocanabinol), quando presente em altas concentrações e sem o equilíbrio natural com CBD, pode prejudicar a função cognitiva – a curto, médio e longo prazo.
Atenção aos Níveis de THC: Uma Preocupação Atual
Existe uma preocupação crescente por parte das autoridades quanto ao teor de THC presente na canábis. A planta consumida nas décadas de 1970 e 1980 é bastante diferente da que se encontra atualmente no mercado.
Hoje, muitas variedades de canábis foram geneticamente modificadas para desenvolverem níveis significativamente mais altos de THC, muitas vezes em desequilíbrio com os níveis de CBD.
Esse descompasso tem levantado alertas, sobretudo pelos possíveis efeitos psicoativos mais intensos e pelas implicações para a saúde pública.
Especial atenção deve ser dada ao consumo por adolescentes, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento. Nesses casos, os danos podem ser duradouros ou mesmo irreversíveis.
Por outro lado, quando o THC é consumido em equilíbrio com o CBD, como ocorre em algumas variedades naturais, os riscos são significativamente reduzidos graças ao chamado “efeito entourage”, onde os componentes da planta actuam em sinergia.

Como é Que o CBD Afecta a Competência Cognitiva?
O canabidiol (CBD) tem ganhado destaque pelos seus efeitos positivos na função cerebral.
Ao contrário do THC, ele não é psicoactivo e, segundo estudos, possui propriedades neuroprotectoras e anti-inflamatórias. Isso significa que pode proteger os neurónios e ajudar a preservar funções como a memória, a atenção e o raciocínio.
Em doenças como Parkinson e esclerose múltipla, o CBD demonstrou benefícios importantes, como melhora motora e redução da neuroinflamação. Alguns ensaios clínicos indicam que doses de até 300 mg por dia são seguras e eficazes para melhorar a qualidade de vida desses pacientes, sem causar efeitos colaterais psiquiátricos.

Além dos efeitos directos no cérebro, o CBD também actua em factores que influenciam a cognição, como o sono e a ansiedade. Dormir melhor e ter menos stress contribui para mais foco, clareza mental e desempenho cognitivo no dia a dia.
As pesquisas também sugerem que o CBD pode atenuar os impactos negativos do THC na memória. Embora estudos em larga escala ainda sejam necessários, as evidências actuais indicam que o CBD é um forte aliado na promoção da saúde mental, no tratamento de distúrbios neurológicos e na manutenção da função cognitiva ao longo da vida.
Como o é Que o THC Afecta a Competência Cognitiva?
A relação entre o THC, o principal componente psicoativo da cannabis, e a competência cognitiva é multifacetada.
O uso pontual de THC pode levar a uma redução temporária na memória, atenção e funções executivas, fazendo com que se sinta mais lento ou com dificuldade de concentração, especialmente em usuários ocasionais.
Para quem usa a longo prazo e em grandes quantidades, a preocupação é maior, pois o uso crónico pode resultar em défices cognitivos mais persistentes, principalmente em cérebros em desenvolvimento.
No entanto, um estudo recente sobre o consumo de canábis e o declínio cognitivo subjetivo (DCS) em adultos com mais de 45 anos apresentou uma nuance interessante. A pesquisa, com dados de 4.744 adultos, descobriu que o uso não-médico de canábis foi significativamente associado a uma redução de 96% nas chances de declínio cognitivo subjectivo(DCS). Embora o uso médico e o uso duplo também mostrassem uma diminuição, não foram estatisticamente significativos. A frequência e o método de consumo não foram ligados ao DCS, mas a razão para o uso sim.
É crucial entender que os efeitos do THC na cognição dependem de vários fatores, como dose, frequência, idade e genética. A pesquisa continua a aprofundar este tema complexo.

O Consumo de Canabinoides na Adolescência e Seus Impactos Cognitivos
O cérebro de adolescentes, em desenvolvimento até os 25 anos, é particularmente vulnerável ao THC. Este canabinoide interfere em processos cruciais como a mielinização e poda sináptica, afectando regiões cerebrais vitais como o hipocampo e o córtex pré-frontal.
O início do consumo antes dos 15-16 anos, ou o uso frequente e de alta potência, está associado a défices mais acentuados e duradouros na memória, atenção, funções executivas e até mesmo no QI. Algumas pesquisas sugerem que esses prejuízos podem persistir mesmo após anos de abstinência, especialmente quando o uso começa cedo na adolescência.
Enquanto adultos podem ver a reversão de efeitos cognitivos agudos após semanas de abstinência, em adolescentes, a história é diferente. O cérebro adolescente está num período sensível a danos neurotóxicos, e estudos indicam que o uso pesado nesta fase pode levar a perdas cognitivas de longo prazo, possivelmente irreversíveis ou mais persistentes.
A complexidade dos canabinoides e seus efeitos na cognição é inegável. Fica claro que a diferenciação entre THC e CBD, a idade do consumidor e a frequência de uso são fatores cruciais.
REFERÊNCIAS e ARTIGOS RELACIONADOS:
Escrito com a ajuda da IA
https://www.frontiersin.org/journals/psychiatry/articles/10.3389/fpsyt.2021.596601/full?utm_source=chatgpt.com
https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/5408
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/63889
https://www.frontiersin.org/journals/pharmacology/articles/10.3389/fphar.2020.618184/full
AVISO:
Este artigo tem caráter unicamente informativo e não deve ser interpretado como aconselhamento médico. Qualquer decisão relacionada ao uso de cannabis medicinal deve ser tomada exclusivamente sob orientação do seu médico assistente.